a nossa visão

Aninhada entre uma Reserva Natural que acolhe flamingos cor-de-rosa, a histórica Vila de Castro Marim e as infinitas praias de areia do sotavento algarvio, encontra-se esta quinta tradicional de agricultura biológica em atividade e rodeada por 12 hectares de pomares orgânicos mediterrânicos com figueiras, laranjas, oliveiras e alfarrobeiras.

Como chegámos aqui

Podemos seguir a história da nossa família até ao grande terramoto de 1755, que destruiu o centro de Lisboa e apagou do mapa todas as vilas de pescadores do Algarve. Pessoas que tinham perdido tudo, mudam-se para terrenos mais elevados e começam a trabalhar mais na agricultura. A família ‘Celorico’ fixou-se em S. Bartolomeu do Sul, o ponto mais elevado das próximidades e a partir daí propagou-se de geração em geração.

Esses dias implicavam uma convivência harmoniosa com a natureza até porque a escassez de água obrigava ao uso de estratégias especiais para poder produzir hortaliças – tais como estrume de ovelhas, estratégias de poeira contra bolor e fungos, e guardar as sementes dos frutos mais resistentes e doces para plantar ano após ano – e o plantio de árvores não existia.

Confiando na sabedoria da natureza, os meus antepassados permitiram que variedades selvagens de árvores crescessem onde encontrassem força e depois de alguns anos enxertaram-nas numa variedade doméstica por eles escolhida. Isso implicou um olhar mais atento para o que seria a melhor relação simbiótica entre a árvore e o tipo de solo e ao mesmo tempo aprender com a observação da magia da natureza. Hoje sabemos – cientificamente – que o caroço da azeitona só cresce depois de um choque ácido, mas há muito tempo atrás as pessoas sabiam que em outubro as gaivotas vinham do mar para comer as azeitonas maduras e após a digestão a semente era deixada a vários quilómetros da árvore mãe e só as mais fortes e adaptadas germinavam nas terras melhores e mais adequadas. Sabedoria pura da natureza!

Os anos foram passando e tenho orgulho de ter escolhido deixar meu ‘futuro pós-moderno de pesquisadora de marketing’ para voltar às terras de minha família e dar continuidade ao trabalho do meu pai – que na sua época abandonou o trabalho de professor e historiador para ajudar o seu pai da mesma forma.

motivação

Há uma situação de emergência que temos que tratar. Todo esse conhecimento aquirido com esforço ao longo de gerações, está agora comprometido por causa da teoria arrogante de que a ciência sabe mais. O desenvolvimento tecnológico coloca a produtividade a curto prazo como meta, esquecendo por isso que frágeis inter-relações entre os ecossistemas são a razão da fertilidade e da existência a longo prazo. Sinto que cheguei mesmo a tempo de ouvir e aprender como enxertar com um senhor de 75 anos da aldeia de S. Bartolomeu, de saber que quando vejo ‘Zurzais’ – uma ave – significa que a minha colheita de figos deve começar, para perceber porque é que a alfarrobeira deve ser plantada, mesmo que o fruto seja esquecido e mal pago, pois ela cresce e prospera sem água e com o tempo fornece mais matéria orgânica ao solo do que aquela que tira e com isso, cura as terras pobres e vitimas da erosão.

As zonas mediterrânicas estão expostas a valores elevados de raios UV no verão que, se atingirem diretamente o solo, desidratam toda a matéria orgânica. As árvores fornecem a sombra necessária para evitar isso – com a sua forma engraçada de guarda-chuva – e é por isso que escolhemos trabalhar nessa base. Os pomares de árvores mediterrânicas não precisam de sistemas de rega artificial porque captam 30% da água das chuvas no Inverno e o seu sistema radicular cresce em profundidade para encontrar humidade no solo em anos secos com menos chuva. Vão libertando esta humidade lentamente através da transpiração durante todo o ano, permitindo que outros arbustos e plantas a absorvam e prosperem sob a sua sombra.

Compreender como trabalhar com a natureza e não contra ela, permitirá que os meus filhos tenham um futuro aqui. A nossa região é uma área pré-desértica de influência dos ventos quentes do Sara, a má gestão das terras pode facilitar o seu avanço até aqui. E tornando-se assim insuportável para a sobrevivência humana.

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